segunda-feira, 14 de abril de 2008

Alunos da UnB se mobiizam sem o apoio da UNE

FONTE: http://arquivoglobo.globo.com/pesquisa/texto_gratis.asp?codigo=3343042
Alunos da UnB se mobiizam sem o apoio da UNE

Alunos militantes de partidos de esquerda lideraram inicialmente o movimento, que ganhou adesão surpreendente
Demétrio Weber

BRASÍLIA. Boa parte dos estudantes que lideraram a ocupação da reitoria da Universidade de Brasília (UnB), levando o reitor Timothy Mulholland a pedir afastamento temporário na última quinta-feira, é filiada ou milita em partidos políticos. O êxito e a repercussão do protesto, porém, atraíram quem não costuma participar de movimento estudantil ou nem é aluno da UnB.Em janeiro, quando o Ministério Público do Distrito Federal denunciou o gasto de R$470 mil de um fundo de desenvolvimento universitário com a decoração do apartamento funcional do reitor, a UnB estava em férias. As primeiras reuniões do Diretório Central dos Estudantes (DCE) para tratar do assunto não atraíam mais do que 15 pessoas. Na semana passada, mais de mil participaram de uma assembléia que decidiu manter a ocupação da reitoria.De chinelos de dedo e bermuda, um dos coordenadores-gerais do DCE, Fábio Felix, não esconde a surpresa com o alcance do movimento. Aos 22 anos, filiado ao PSOL, ele está no oitavo semestre do curso de serviço social. Em 2006, concorreu a deputado distrital, mas recebeu só 790 votos. — Foi tudo muito espontâneo. A gente ia fazer um ato, ficar gritando do lado de fora e ir embora. Agora, fazemos assembléia com 1.600 alunos — diz Fábio.Presidente da UNE dizque apóia, mas não apareceOs alunos negam ter líderes, mas Fábio é claramente um deles. Outra é a aluna do quarto semestre de ciências sociais Luiza Oliveira, de 18 anos, também coordenadora do DCE. Ela milita na juventude do PSTU. Seus cabelos ruivos destacam-se no meio dos manifestantes e estão sempre no centro dos acontecimentos. Ela rejeita a idéia de partidarização do movimento:— Defender que não se possa ser de partido é atentar contra a liberdade partidária, ideológica e de organização. O problema não é ser de partido, mas desrespeitar as instâncias do movimentoUnidas ao PSOL e ao PSTU na intenção de afastar o reitor e o vice, duas militantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), cujo comando é dominado pelo PCdoB, dormem na reitoria desde o início. Mas a presidente da entidade, Lúcia Stumpf, não tinha sequer visitado o prédio até sexta-feira, nono dia de ocupação.Após ocupar o gabinete do reitor no último dia 3, o grupo logo criou comissões de segurança, comunicação, negociação e logística. Nos primeiros dias, quando seguranças da UnB bloqueavam o acesso ao gabinete invadido, e havia receio de uma desocupação pela Polícia Federal, os líderes foram orientados por um advogado a ficar longe da linha de frente. Aluna do terceiro semestre de história, Catharina Lincoln, de 20 anos, é responsável pelas finanças do DCE. Ela milita na juventude do PSTU. Na ocupação, está em todas:— O movimento estudantil na UnB andava apático e teve agora uma revigorada. É um exemplo de luta para o Brasil.Empolgados com a ação na UnB, estudantes de outros estados correram para Brasília. O coordenador-geral do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rodolfo Mohr, de 21 anos, é filiado ao PSOL e engrossa a manifestação na UnB desde quarta-feira:— O eixo “fora Timothy e Mamiya” não é uma pauta específica da UnB. É nacional, pois toca em duas questões centrais: o financiamento via fundações de apoio e a democracia na universidade.A ex-coordenadora do DCE da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bárbara Sinedino, de 21 anos, também é filiada ao PSOL. A exemplo dos colegas de ocupação, ela pegou no pesado: — Ontem tirei lixo, limpei banheiro.Amanhã os alunos terão nova assembléia. Na quarta-feira, o afastamento do vice-reitor Edgar Mamiya voltará a ser discutido no Conselho Universitário da UnB, depois de uma reunião sem consenso na última sexta-feira.

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